O povo judeu levava o sepultamento dos mortos muito a sério. As Escrituras estabelecem de forma bastante firme que nenhum corpo morto deveria ser deixado sem enterro, mesmo os de seus piores inimigos.
Talvez um dos horrores mais intensos que um judeu poderia imaginar esteja descrito no Salmo 78: "Eles jogaram os corpos de teus servos como alimento para as aves do céu; as feras selvagens banqueteiam-se com os cadáveres dos justos."
Cerimônia de despedida
Os mortos tinham direito a um tratamento cerimonial. Assim que uma pessoa falecia, seus olhos deveriam ser fechados, ela deveria ser beijada com amor e seu corpo lavado (Gênesis 50:1; Atos 9:37). Durante essa lavagem, o corpo era ungido com perfumes. Nardo era o mais comum entre eles, mas também se usavam plantas como a mirra e aloés.
À época de Jesus, era costume o corpo ser envolto elaboradamente em um manto e o rosto coberto com um pano especial chamado sudário. As mãos e os pés eram amarrados com tiras de tecido.
Depois que o corpo estava preparado, parentes e amigos podiam ir à casa para se despedirem pela última vez. Tudo isso acontecia rapidamente, e o sepultamento geralmente ocorria dentro de oito horas após a morte. No clima quente, tudo precisava ser muito rápido.
Após esse breve momento para despedidas, o corpo era levado ao túmulo em uma espécie de andor. Os parentes e amigos da pessoa se revezavam no carregamento, como um sinal de carinho.
Mulheres e sepultamento
As mulheres lideravam a procissão ritual, que era bastante barulhenta, mesmo nos casos em que a morte já era esperada há muito tempo. Esperava-se que todas as procissões funerárias tivessem pessoas lamentando em voz alta e jogando poeira no cabelo; também haveria um flautista tocando música fúnebre. Dadas essas expectativas, as famílias muitas vezes contratavam carpideiras, pessoas especialistas em chorar, para ajudar.
Os judeus nunca cremavam seus mortos; na verdade, a ideia os horrorizava, pois acreditavam na ressurreição do corpo. Isto até hoje.
Cemitérios
Os cemitérios eram obrigados a estar a pelo menos cinquenta metros fora de qualquer cidade ou vila.
Os túmulos típicos dos dias de Jesus eram uma espécie de caverna ou escavação cortada em um penhasco rochoso. Às vezes, grupos de famílias compartilhavam essas áreas de sepultamento. Uma abertura na lateral de um penhasco poderia levar a uma cripta com várias salas usadas por diferentes grupos familiares. Haveria uma câmara externa e uma câmara interna, ou pelo menos uma área frontal e uma traseira.
Na câmara externa, o corpo seria colocado em um banco ou prateleira esculpida na rocha. Após as despedidas finais, uma grande pedra redonda era rolada para cobrir a entrada do túmulo.
Essas pedras muitas vezes eram pintadas de branco como um sinal de que a área era um local de sepultamento. Isso era feito porque os judeus consideravam impuro entrar em contato próximo com um corpo morto. Isso poderia ser suportado como um ato de caridade por um parente falecido, não quando se tratava de estranhos.
As entradas marcadas com tinta serviam, portanto, como um aviso para manter distância.
Sepultamento dos pobres
Pessoas muito pobres que não podiam pagar por um túmulo escavado na rocha ou estrangeiros que não possuíam terras eram enterrados em poços verticais dentro de campos designados.
Há uma referência à compra do campo do oleiro no Evangelho de Mateus, que menciona a existência desses tipos de cemitérios para estrangeiros que morriam e precisavam de sepultamento (Mateus 27:7).
Exumação
Após cerca de um ano era feita a exumação. Os membros da família retornavam ao túmulo, recolhiam os ossos e os colocavam em uma caixa chamada ossuário. Eles marcariam a caixa com informações identificadoras e a colocariam em local à frente do túmulo, onde os ossos de outros parentes eram armazenados. Daí vem a expressão judaica de que, após a morte de alguém, ele "descansava com seus ancestrais". Isso também explica as preocupações do Patriarca José: "Então José fez os filhos de Israel jurarem, dizendo: 'Deus certamente vos visitará e fará que subais daqui os meus ossos'" (Gênesis 50:25).
Em relação ao tempo em que saíram do Egito, as Escrituras dizem: "E Moisés levou consigo os ossos de José, porque ele fizera os filhos de Israel jurarem, dizendo: 'Deus certamente vos visitará, e então fareis subir daqui os meus ossos convosco'" (Êxodo 13:19).
Descanso final
Finalmente, as Escrituras dizem: "Os ossos de José, que os filhos de Israel haviam trazido do Egito, foram enterrados em Siquém, no pedaço de terra que Jacó comprara dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de prata; e tornou-se herança dos descendentes de José" (Josué 24:32).
Assim José descansou com seus antepassados. E assim descansaremos nós também, até que nossos corpos se levantem na última trombeta.